sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Idade Média- Umberto Eco




Thalyta Saraiva, Verônica Saraiva


1- O que a Idade Média não é? Explique. Pág,04

A Idade Média não é um século. Não é um século, como o século XVI ou o século XVII, nem
um período bem definido e com características reconhecíveis como o Renascimento, o
Barroco ou o Romantismo. É uma sucessão de séculos assim chamada pelo humanista Flavio
Biondo, que viveu no século XV.

2- A Idade Média não é um período exclusivo da civilização
europeia? Explique. Pág. 05

A Idade Média não é um período exclusivo da civilização europeia. Ao mesmo tempo que
a Idade Média ocidental, ocorre a do império do Oriente, que continua viva nos esplendores
de Bizâncio durante mil anos depois da queda de Roma. Nestes mesmos séculos floresce uma
grande civilização árabe enquanto na Europa circula mais ou menos clandestinamente, mas
vivíssima, uma cultura hebraica. As fronteiras que dividem estas diversas tradições culturais
não são tão nítidas como hoje se pensa (quando predomina a imagem do conflito entre
muçulmanos e cristãos no decurso das Cruzadas). A filosofia europeia conhece Aristóteles e
outros autores grecos através de traduções árabes, e a medicina ocidental vale-se da
experiência dos árabes. As relações entre eruditos cristãos e árabes, ainda que não
proclamadas em voz alta, são frequentes.

3- Os séculos medievais não são a Idade das Trevas?
Explique.pág.6

Os séculos medievais não são a Idade das Trevas, as Dark Ages dos autores anglófonos.Se com esta expressão se pretende aludir a séculos de decadência física e cultural agitados
por terrores sem fim, fanatismo, intolerância, pestilências, fomes e carnificinas, este modelo
poderá ser aplicado, em parte, aos séculos que decorrem da queda do Império Romano até ao
novo milénio ou, pelo menos, ao renascimento carolíngio.

4- A Idade Média não tinha só uma visão sombria da vida?
Explique. Pág. 10

A Idade Média não tinha só uma visão sombria da vida. É verdade que a Idade Média
está cheia de tímpanos de igrejas românicas repletos de diabos e suplícios infernais e que vê
circular a imagem do Triunfo da Morte; que é uma época de procissões penitenciais e, por
vezes, de uma nevrótica expectativa do fim, que os campos e os burgos são percorridos por
bandos de mendigos e de leprosos e que a literatura tem, por vezes, a alucinação das viagens
infernais. Mas, ao mesmo tempo, a Idade Média é a época em que os goliardos celebram a
alegria de viver e é, acima de tudo, a época da luz.
Exatamente para desmentir a lenda dos tempos escuros, é conveniente que se pense no gosto
medieval da luz. Além de identificar a beleza com a proporção, a Idade Média identificava-a
com a luz e a cor, e esta cor era sempre elementar: uma sinfonia de vermelho, azul, ouro,
prata, branco e verde, sem esbatidos nem claros-escuros, em que o esplendor é gerado pelo
acordo geral em vez de se fazer determinar por uma luz que envolve as coisas por fora ou de
fazer escorrer a cor para fora dos limites da figura. Nas miniaturas medievais, a luz parece
irradiar dos objetos.

5- A Idade Média não ignorava a cultura clássica? Explique. Pág.
12

A Idade Média não ignora a cultura clássica. Embora tendo perdido os textos de muitos
autores antigos (os de Homero e dos trágicos gregos, por exemplo), conhecia Virgílio,
Horácio, Tibulo, Cícero, Plínio, o Jovem, Lucano, Ovídio, Estácio, Terêncio, Séneca,
Claudiano, Marcial e Salústio. O facto de existir memória destes autores não significa,
naturalmente, que fossem do conhecimento de todos. Um destes autores podia, por vezes, ser
conhecido num mosteiro com uma biblioteca bem fornecida e desconhecido noutros locais.
Havia, no entanto, sede de conhecimento e, numa época em que as comunicações pareciam tão
difíceis (mas, como vamos ver, viajava-se muito), os doutos procuravam por todos os modos
obter manuscritos preciosos. É célebre a história de Gerberto d’Aurillac, que depois será
Silvestre II, o Papa do ano 1000, que promete a um seu correspondente uma esfera armilar se
ele lhe arranjasse o manuscrito da Farsália de Lucano. O manuscrito chega, mas Gerberto
acha-o incompleto e, não sabendo que Lucano deixara a obra por terminar, porque fora
«convidado» por Nero a abrir as veias, envia ao correspondente apenas metade de uma esfera
armilar. A história, talvez lendária, poderia ser simplesmente engraçada, mas revela que
também naquela época estava muito desenvolvido o amor à cultura clássica.
O modo como eram lidos os autores clássicos está, contudo, vergado aos desígnios de uma
leitura cristianizadora, como é exemplo o caso de Virgílio, lido como um mago capaz de fazer
vaticínios e que na Écloga IV teria previsto o advento de Cristo.

6- A Idade Média não foi uma época em que ninguém se atrevia a ir além dos limites da sua aldeia? Explique. Pág. 14

A Idade Média não foi uma época em que ninguém se atrevia a ir além dos limites da
sua aldeia.
É bem sabido que a Idade Média foi uma época de grandes viagens: basta pensar
em Marco Polo. A literatura medieval está repleta de relatos de viagens fascinantes, ainda que
com uma abundância de elementos lendários, e os vikings e os monges irlandeses foram
grandes navegadores, para não falar das repúblicas marítimas italianas. Mas, acima de tudo, a
Idade Média foi uma época de peregrinações, em que até os mais humildes se metiam ao
caminho em viagens penitenciais a Jerusalém, a Santiago de Compostela ou a qualquer outro
famoso santuário onde estivessem conservadas as milagrosas relíquias de algum santo. A tal
ponto que, em torno desta atividade dos peregrinos, surgem estradas e abadias (que
funcionavam também como albergues) e são escritos guias muito minuciosos que indicam os
locais dignos de visita ao longo do percurso. A luta entre os grandes centros religiosos para
obter relíquias dignas de visita faz da peregrinação uma verdadeira indústria que envolvia as
comunidades religiosas e os centros habitados, e Reinaldo de Dassel, chanceler de Frederico,
Barba Roxa, tudo fez para subtrair a Milão e levar para Colónia os restos dos três reis magos.
Tem sido observado que o homem medieval tinha poucas oportunidades para se deslocar a
centros próximos, mas muitas para se aventurar a destinos remotos.



7- A Idade Média não é sempre misógina? Explique. Pág. 16

A Idade Média não é sempre misógina. Os primeiros padres da Igreja manifestam um
profundo horror à sexualidade, de tal modo que alguns recorrem à autocastração, e a mulher é
sempre apontada como fomentadora do pecado. Esta misoginia mística está presente no mundo
monástico medieval; basta recordar o trecho do século X em que Odo de Cluny diz: «A beleza
do corpo está toda na pele. Com efeito, se os homens, dotados da penetração visual interna
como os linces da Beócia, vissem o que está sob a pele, a simples vista das mulheres seria
nauseabunda: essa graça feminina é apenas banhas, sangue, humor e fel. Considerai o que se
oculta no nariz, na garganta e no ventre: em toda a parte imundícies... E nós, que sentimos
repugnância em tocar sequer com as pontas dos dedos o vomitado ou o esterco, como
podemos desejar estreitar nos braços um simples caos de excrementos?» E não seria
necessário citar monges pudibundos, porque o mais feroz texto contra a mulher está em
Corbaccio, de Giovanni Boccaccio, e em pleno século XIV.
Mas a Idade Média é também a época da mais apaixonada glorificação da mulher, quer pela
poesia cortês quer pelos cultores do novo estilo, e pensamos na divinização que Dante faz de
Beatriz. Não é apenas na imaginação poética e laica, no mundo monástico recordamos a
importância de figuras como Hildegarda de Bingen ou Catarina de Sena, que se relacionam
com os soberanos e são escutadas pela sua sabedoria e pelo seu fervor místico. Heloísa tem
uma relação carnal com o seu mestre Abelardo quando, ainda menina e não consagrada à vida
religiosa, frequenta a universidade, despertando a admiração dos colegas masculinos. Diz-se
que no século XII Bettisia Gozzadini ensinava na Universidade de Bolonha e que no século XIV
também ali ensinava outra mulher, Novella d’Andrea, que era obrigada a cobrir o rosto com
um véu para que a sua extraordinária beleza não distraísse os estudantes.

8- A Idade Média não foi a única época iluminada por fogueiras?
Explique. Pág. 17

A Idade Média não foi a única época iluminada por fogueiras. Queimava-se gente na
Idade Média e não só por motivos religiosos, mas também por motivos políticos, pensemos no
julgamento e condenação de Joana d’Arc. Ardem hereges como frei Dolcino e ardem
criminosos como Gilles de Rais, que assassinou e estuprou muitos meninos (falava-se de
200).
Convém lembrar que 108 anos depois do fim «oficial» da Idade Média será queimado
Giordano Bruno no Campo dei Fiori e que o processo contra Galileu data de 1633, passados
141 anos desde o início da Idade Moderna. Galileu não foi queimado, mas em 1619, em
Toulouse, foi queimado Giulio Cesare Vanini, acusado de heresia, e em 1630, em Milão, como
nos conta Manzoni, foi queimado Gian Giacomo Mora, acusado de propagar a peste com
unguentos contaminados.

9- Qual a opinião de vocês sobre a Idade Média? Explique.

A Idade Média é tratada de forma divergente pelos historiadores. Alguns dizem que foi uma época de trevas, visto que não houve significativos avanços do saber e da arte. De fato, podemos considerar este período como uma fase de transição, uma época de dificuldades e inseguranças para toda a Europa ocidental. No entanto, vale ressaltar que o mesmo foi essencial para o surgimento da civilização moderna, com suas novas ideias e princípios que acabaram mudando o mundo.









Nenhum comentário:

Postar um comentário